Olhos Que Falam

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domingo, setembro 16, 2007

Era uma vez no México ...

Em 2001, resolvi fazer uma viagem sozinho, e na base do mochilão, pela Costa Oeste dos Estados Unidos. Quando estava em um albergue em Santa Mônica, nos arredores de Los Angeles, descobri que a fronteira com o México ficava a menos de três horas de carro. Como o México não requer visto de entrada para brasileiros, decidi alugar um carro para chegar até a fonteira e cruzá-la à pé.

No dia 30 de outubro, véspera do dia das bruxas, aluguei um carro e fui em direção ao México. Como no carro tinha rádio-CD, fui ouvindo um CD do grupo inglês Renaissance que havia comprado no dia anterior. No caminho da fronteira, parei em San Diego e ao passear por essa cidade, cruzei com um grupo numeroso de velhas bruxas, todas caracterizadas, que estavam fazendo sua confraternização anual. Tirei uma foto com elas e segui viagem.

Logo após sair de San Diego, comecei a ver as placas de indicação da fronteira. Quando vi a placa indicando a última saída antes da fronteira, saí da estrada e parei um centro de comércio ao lado da fronteira. Parei para observar com estranheza o lugar. Vi o muro que separava os dois países e era brutal a diferença de cenário em seu lados. De um lado, o ambiente asséptico norte-americano com construções projetadas e organizadas com o qual já tinha acostumado meu olhar; do outro lado, uma baita poluição visual, muitos cartazes de propaganda, ruas e construções irregulares, espremidas e inacabadas, e uma imensa bandeira mexicana com suas cores vibrantes e os dizeres "Bienvenido a Mexico".

Cruzar a fronteira foi como passar em uma viela, extremamente fácil... facil demais. Ninguém falava com nenhum oficial de fronteira mexicano, só passava pela viela. Em um dado momento, lembrei que devia registrar minha máquina fotográfica. Fiquei indeciso se devia burocratizar o processo. Afinal, estava tão fácil. Por ser muito "certinho", decidi entrar em uma casinha à minha esquerda onde se lia "Alfândega". Foi minha grande sorte, pois o guarda mexicano observou que eu tinha que oficializar minha entrada no país. E assim, tive o passaporte carimbado pela imigração mexicana, o que me foi muito útil, como veremos, no final da tarde.

Em Tijuana, almocei em um restaurante tipicamente mexicano, onde comi uns burritos e bebi cerveja mexicana. Como não sou bom bebedor de cerveja, não notei a menor diferença. Na mesa ao lado, tinha um grupo de locais, uma moça e dois rapazes; um deles estava com um violão. Enrolei no portunhol, fiz amizade com os nativos e toquei algumas músicas no instrumento. O momento alto foi quando toquei "Malagueña" para eles. Que ousadia!! Cantar em espanhol para um grupo de mexicanos?! Hahaha... Totalmente sem loção!

Após passear pela cidade de Tijuana, decidi voltar para o meu albergue. Na fronteira dos EUA, vi que a volta era bem mais complicada e burocrática. Há menos de dois meses, tinha acontecido o atentado de 11 de setembro e os oficiais de imigração americanos estavam neuróticos com a segurança de suas fronteiras. O pior foi que tinha deixado no albergue o comprovante de entrada nos EUA. Eu tinha o carimbo de entrada americano no passaporte, mas era preciso o comprovante. Minha sorte foi que eu tinha como comprovar minha entrada no México naquele dia. Paguei uma pequena multa de menos de dez dólares (e era o que tinha no bolso) e atrevessei a fronteira agradecendo muito a Deus pela lembrança da máquina e a mim por ter sido tão "caxias".